Apresentação do dia 11 de novembro de 2016, no Museu Espaço dos Anjos, em Leopoldina, MG
3º lugar – Poesia
AUGUSTO CADÁVER
Autor: Gilberto Cardoso dos Santos
(Santa Cruz/RN)
Pseudônimo: Amor Tecido
Intérprete: Fabrício Manca
Augusto
dos Anjos, poeta da morte,
Tão
jovem no leito sem vida jazia
Morreu
atacado por pneumonia
Entregue
ao destino que temos por sorte.
Um
mal invisível mostrou-se mais forte
Impondo
ao corpo feroz morbidez
Tirou-lhe
do ser qualquer altivez
Trazendo
à mente cruel prostração
Começa
a maldita decomposição
Que
prova a verdade dos versos que fez.
De
onde vieram os versos cortantes
De
góticas vestes sonoras vestidos,
Bonitos
e tristes, amados, temidos,
Quais
blocos de gelo no mar flutuantes?
Estrofes
perfeitas e aterrorizantes
Nasceram
do corpo que agora é velado
O
golpe maldito enfim foi-lhe dado
A
massa encefálica perdeu a batalha
Só
resta o lamento e pôr a mortalha
Naquele
que em vida se viu sepultado.
Se
ele pudesse agora se ver
Cadáver
em princípio de putrefação
O
que comporia perante a visão
Do
fim absurdo de seu próprio ser?
Talvez
que viesse a se exceder
E
em póstumos versos melhor descrevesse
O
drama que expôs; bem mais entendesse
A
dura verdade que poetizou
E
aos favos de fel que armazenou
Com
lúgubre gozo quem sabe sorvesse.
Com
olhar de abutre em vida se via
À
espera do instante do último alento
A
perenidade de cada elemento
O
punha em constante e íntima agonia
O
sol do otimismo não o atraía
No
vale da sombra da morte ficou
O
que haveria de ser afetou
A
filosofia do ser transitório
Vivia
à espera do próprio velório
Com
apática certeza seu afim aguardou.
Em
breve os vermes na exuberância
Da
carne sem vida, augusto banquete,
Tal
como crianças lambendo sorvete
Irão
deleitar-se sem repugnância
O
ecossistema com certa elegância
O
magro cadáver irá decompor
Quem
sabe na pétala de fúnebre flor
No
vivo tapete que venha a nascer
Augusto
inspire alguém a dizer
Que o mundo é estranho, mas encantador.
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