Na sexta-feira, dia 24, como parte das Homenagens pelo Centenário de Morte de Augusto dos Anjos, a acadêmica Glória Barroso declamou os poemas Vozes de um Túmulo, Debaixo do Tamarindo e finalizou com a mensagem de esperança de Vozes da Morte.
A admiração de Glória pelo poeta do Eu ficou expressa em declaração recente que enviou para o blog:
"Uma razão para escolha de Augusto dos Anjos para Patrono da Academia Leopoldinense de Letras e Artes foi, naturalmente, o encontro - acaso, destino? - do poeta, nascido no distante estado da Paraíba e Leopoldina que o acolheu em vida e na morte. A construção de seu túmulo em nosso cemitério (durante a gestão de Clóvis Salgado como governador de Minas e de seu irmão, Jairo, como prefeito de Leopoldina nos anos 60) se deveu ao fato de Augusto já ter sido reconhecido, valorizado, “redescoberto” por seus pares, tomando lugar, com justiça, entre os notáveis da Poesia Brasileira.
Não só em seus pares sua Poesia encontrava eco - embora o fato comum de causar estranheza sua linguagem barroca, rebuscada e recheada de “carne podre”, “larvas malignas”, “cadáver malsão” (Como Van Gogh que chocava pintando botinas velhas, em vez de temas românticos, por não apresentar a pintura que esperavam dele, esquemas cristalizados em decadentes modelos do público) -, Augusto teve também, quando a lançou, sua arte rejeitada pelo que ela possuía de criador, inovador. Encontra eco também no povo, evidenciado pelas sucessivas edições do EU. Como tem sido declamado “Versos Íntimos” com seu verso chocante “escarra na boca que te beija”!
Sua Poesia é a expressão de suas vivências, seus questionamentos sobre a vida e a morte, a doença, as perdas, o absurdo da existência, numa visão pessimista do mundo.Mas, sob o véu do cientificismo e do vocabulário precioso, difícil, está intocada a Poesia. Para aqueles que levantam os véus que confundem, se reconhece o poeta em toda sua verdade.
A recusa de convencionalismos, (ainda que adotasse técnicas de seus antepassados: o uso do soneto, por exemplo, forma que restringe talentos menos poderosos que privilegiam forma em detrimento do conteúdo, da matéria poética) a recusa de posturas artificiais, regras impostas; o emprego de palavras do cotidiano, vistas como antipoéticas, a vida-chão, prenunciava a chamada Poesia Moderna cujo manifesto seria lançado oito anos depois da sua morte, na Semana de Arte Moderna de 1922, com alarde, polêmica e achincalhes.
O menino do Engenho de Pau d’Arco que queria ser enterrado ao pé do seu querido tamarindo, o moço que nos deixou tão cedo, e que nos legou sua poesia sofrida, angustiada e questionadora, tornou–se, afetuosamente, o Augusto que mora ali na Rua Cotegipe, nosso vizinho e patrono e inspirador da nossa Academia."
A participação de Glória Barroso no evento da última sexta-feira foi muito elogiada pelo público presente ao Museu Espaço dos Anjos.
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