Segundo depoimento de um membro da Academia Leopoldinense de Letras e
Artes, as atividades de Luiz Raphael, na casa em que morou Augusto dos Anjos,
promoveram uma revitalização da memória sobre este personagem que entrecruza a
história de Leopoldina em vários momentos do século XX. Sua ausência do cenário
local, poucos meses depois de ali chegar, poderia tê-lo feito desaparecer nas
sombras da sepultura que guarda seus restos mortais. Entretanto, é como se ele
renascesse de tempos em tempos para os jovens leopoldinenses.
Uma década depois de sua morte, um grêmio fundado no então Ginásio
Leopoldinense disseminou entre os estudantes da época a poesia, às vezes
inóspita, que Augusto dos Anjos nos legou.
Mais vinte anos se passaram e as comemorações do centenário de
emancipação político administrativa de Leopoldina fizeram-no lembrado outra
vez, através da pena de memorialistas.
Transcorridas outras duas décadas e foi a vez da movimentação política
em torno da permanência dos restos mortais do vate em Leopoldina. Até então
esquecido num túmulo singelo, Augusto dos Anjos foi objeto de intensas
negociações que resultaram na construção de um novo jazigo e em acordos selados
com os conterrâneos da Paraíba.
Chega a década de 1980 e o centenário de nascimento do poeta desencadeia
novo movimento em torno de sua obra. Através de Luiz Raphael,
torna-se mais conhecida a casa onde Augusto dos Anjos morou. Atividades
culturais surgem de tempos em tempos. Na música, na literatura, nas artes em
geral o poeta ressurge.
Os jovens assistem palestras, leem as poesias e as cartas. E conforme
declarou um deles, “as impressões sobre a obra de Augusto dos Anjos são as
melhores. Ele é visto como um artista muito criativo, tecnicamente perfeito e
singular. Especialmente no que se refere à capacidade que teve de unir ciência
e poesia, com sensibilidade e conhecimento... Como pessoa, alguém muito
inteligente e racional, que tinha conhecimento do seu gênio, mas irritado com a
falta de reconhecimento de seu tempo. Era amoroso e sensível, amante das artes
e da família, por um lado; por outro, racional, formal, inadaptado ao tempo e espaço
em que viveu. Passa a ideia de decepção com a humanidade”.
O centenário de sua morte, ocorrida na pequena Leopoldina de 1914, abre
um novo momento de re-conhecimento da obra do grande bardo, de reflexão sobre
sua vida e sobre a morte de que tanto falou e que se tornou sua marca indelével
para a cidade.
Entre os dias 17 de outubro e 14 de novembro de 2014 serão realizadas
múltiplas atividades para lembrar o poeta. Serão vinte e nove dias de homenagens,
com a participação de jovens de todas as idades. Dos pequeninos que declamarão
poesias à beira de seu túmulo aos mais experientes que há meses se dedicam a
escrever, produzir, ensaiar, experimentar, definir, escolher e organizar as
cerimônias.
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