Cadeira nº 26: Luiz Rosseau Botelho

Memorialista

Nascido em Leopoldina em 1892

Por Ana Cristina Miranda Fajardo.

Amiga de longa data, Natania Nogueira convidou-me, informalmente, em meados do ano passado, a fazer parte da ALLA. Fiquei extremamente lisonjeada; porém, aguardei o convite formal. O tempo passou... Recebi um telefonema de Nilza, dizendo que precisaria escolher meu patrono. Respondi-lhe que ainda aguardava o convite formal, por isso nem havia insistido no assunto. Ela disse que o convite de Natania fora formal. Meu Deus! Como escolher um patrono? Nilza elencou-me nomes, até que surgiu Luiz Rousseau Botelho. Nossa, que sorte! Que sincronia! Nada acontece por acaso... No primeiro semestre de 2015, Elias Fajardo esteve na E E Justiniano Fonseca, Tebas, apresentado uma leitura do livro Alto Sereno. Como me identifiquei com as passagens apresentadas. Embora Elias e eu sejamos parentes, não nos conhecíamos. No final da explanação, fui cumprimentá-lo e apresentar-me. Ele prontamente emprestou-me sua única edição do livro. Como foi gratificante ler a obra! Transportei-me a minha infância na roça. Apesar de Luiz Rousseau e eu termos vivido em épocas distintas, ainda me recordo dos resquícios de uma época única: pau-a-pique, horta, plantação de arroz, arado, moinho de fubá, lamparina...

Aliás, encantei-me por um Luiz Rousseau completo: ser humano e escritor. Um senhor que começa a escrever após os oitenta anos é digno de toda a admiração. Que lucidez de memória! A escolha dele como patrono fez com que me enveredasse por sua obra. Consegui, através da Estante Virtual, adquirir os demais livros. Moinhos de fubá fez-me voltar novamente ao meu passado na zona rural. Descobri, nesse livro, o tom crítico do autor, sempre comparando o hoje com sua época de infância, esta sempre melhor e mais saudável. Coração de menino inicia-se com uma belíssima passagem: Luiz está em sua varanda, em Além Paraíba, mas ao mesmo tempo encontra-se em seu passado.

O outro livro publicado por ele foi Dos oito aos oitenta. Apesar de os livros serem classificados como memória, consegui perceber memória literária através das belíssimas metáforas.

Esse percurso, entre a escolha do patrono e a posse na ALLA, fez-me pensar no porquê disso tudo. Meu objetivo, como acadêmica da ALLA, é aproximar ainda mais escola e academia. Quero ser porta-voz, quero levar a colegas,e principalmente aos alunos, a importância de se circular pelo meio cultural. Quero tentar apresentar os caminhos que esse meio pode abrir. Quero ser “ponte” para unir dois universos distintos: o mundo intelectualizado ao mundo das pessoas comuns. Percebo certo receio em muitos jovens e adultos quanto à participação em eventos como a Semana da ALLA. Isso pode ser reflexo da distância entre um universo e outro. Talvez esteja sendo pretenciosa, mas não faria sentido compor tão importante Academia se não fosse por uma causa maior que o status que essa nova situação me proporciona.

Agradeço a presença de todos que estiveram presentes em minha posse: minha família; meus alunos; meus amigos; Elias, que tão prontamente atendeu a minha solicitação. Todos sabem o quão significativo para mim é esse momento.


Dados biográficos:

Luiz Rousseau Botelho, penúltimo filho de Luiz Botelho Falcão (IV) e Emília Antunes, nasceu em 1892 e se casou, em Além Paraíba, em 1921, com Joaquina Santos, com quem teve os filhos Maria Josefina, Solange e José Botelho.
Rousseau, a exemplo de seu irmão Luiz Eugênio Botelho, foi também memorialista que, incentivado pela filha Solange, publicou os livros Dos 8 aos 80 (1979), Alto Sereno (1981), Moinho de Fubá (1982) e Coração de Menino (1984).
Segundo o prefácio do livro Alto Sereno, Rousseau foi acrescentado ao nome de Luiz por um seu irmão, em referência a Jean-Jacques Rousseau, filósofo suíço, nascido em Genebra, figura marcante do iluminismo francês.
Em seu livro Dos 8 aos 80, Luiz Rousseau informa que seu primeiro trabalho foi como ajudante de seu irmão Tatão (Luiz Emílio), numa farmácia em Tebas. Depois, foi admitido como empregado da Gazeta de Leopoldina e, em 1913, foi para a Companhia Força e Luz Cataguases-Leopoldina, dali saindo em 1914 para trabalhar na Companhia Mineira de Eletricidade em Juiz de Fora. Em 1920, era microscopista no Posto de Profilaxia em Campo Limpo, distrito de Leopoldina atualmente denominado Ribeiro Junqueira, sendo depois transferido para o Posto de Profilaxia de Além Paraíba. Em 1921, foi designado para Tombos do Carangola para combater um surto de Tifo. Em 1923, a Brasilian Light and Power, na Ilha dos Pombos, em Além Paraíba, era o seu local de trabalho. Depois passou a ser funcionário da Light, em São Paulo, Pirapora e Santos. Em 1930, tornou-se funcionário da Prefeitura de Além Paraíba, trabalhando em Pirapetinga como encarregado do serviço de abastecimento d'água que vinha do rio que deu nome àquele município. Em 1933, voltou a trabalhar para a Light em Além Paraíba.
No Almanaque do Arrebol, ano II, outubro 1985, há uma entrevista de Luiz Rosseau em que ele declara ter vivido em Leopoldina até 1918 e que o Dr. Irineu Lisboa, patrono da cadeira nº 1 da ALLA, foi seu padrinho de casamento.

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