Cadeira nº 31: Mestre Vitalino

Discurso de posse do acadêmico Waldemar Pedro Antônio

OBRIGADO PELO CARINHO ! Ao ser comunicado de que meu nome teria indicação para fazer parte como membro de uma cadeira na Academia Leopoldinense de Letras e Artes , disseram-me , também , que deveria apresentar uma celebridade cultural , natural de Leopoldina , já falecida para patrono de meu ingresso como acadêmico nesta Catedral do saber . Diante de várias personalidades envolvidas com a cultura leopoldinense , optei por alguém que , identificado com a arte popular , ENRIQUECERIA muito mais o meu compromisso de representar dignamente a cadeira acadêmica . Quando um artista traz embutido graficamente em seu nome o significado de uma vez“ A PLENITUDE DA VIDA “ , que o nome Vitalino é um termo predominantemente masculino, de origem Latina que significa "Cheio de vida", temos de reconhecer a sua vitalidade na preservação da arte com a participação popular , e nada é mais prazeroso que o envolvimento com as manifestações carnavalescas . 


Divulgador das festas folclóricas e religiosas emdesfilava pelas  Leopoldina , ruas da cidade nas manifestações festivas como palhaço ou papai Noel, e nos desfiles momescos com uma boneca baiana , sua companheira foliã , e sempre contribuindo com suas participações nos eventos culturais . 

Segundo a pesquisadora, historiadora e professora Natania Nogueira , no blog “ História do Ensino “ , assim o descreve : “ Nosso mais famoso carnavalesco foi Mestre Vitalino Duarte , conhecido em Leopoldina por promover festas populares . Nasceu no dia 15 de agosto de 1932 . Em 1955 começou a se interessar pelo carnaval e , em 1959 , fundou a Escola de Samba Acadêmico de Leopoldina  da qual foi presidente . Morreu em 2003 depois de 47 anos de carnavalesco . “ 


Identificando-me COMAS questões temáticas sobre CARNAVAL , uma vez que participei ativamente, durante toda a trajetória de minha vida, como membro das Escolas de Samba do Rio de Janeiro , desfilando como componente da Agremiação , e também analisando e julgando questões relacionadas com os enredos desenvolvidos nos desfiles das Escolas de Samba, foi que me deu a opção na escolha do carnavalesco leopoldinense     : o “ Mestre VITALINO DUARTE como patrono em minha posse . 

AO ME INDICAREM PARA COMPOR A HONROSA CADEIRA NÚMERO 31 DA ACADEMIA LEOPOLDINENSE DE LETRAS E ARTES  O QUE MUITO ME HONRA, PENSO EU, QUISERAM, HOMENAGEAR-ME PELO RECONHECIMENTO DE UM TRABALHO SENÃO PERFEITO, MAS SEMPRE EM BUSCA DA PERFEIÇÃO , PELA MARCA OU DE UMA SERIEDADE E COMPROMISSO NO DESENVOLVIMENTO DE CADA TAREFA CULTURAL POR MIM EXECUTADA . 

Ser acadêmico significa fazer parte de uma Sociedade Fechada responsável pela difusão cultural . E mediante a liberdade que vocês me concedem de exteriorizar todos os meus sentimentos no momento de minha fala é que fui buscar no fundo de meu coração o tema sobre o qual desfilarei em agradecimento à minha indicação. 
Todo discurso é centralizado em um eixo temático para ser desenvolvido. Poderia eu escolher um assunto cuja linha versasse sobre uma mensagem pautada em vários eixos semânticos . Entretanto , julguei que seria melhor centrá-lo em uma expressão que brota da alma: MOTIVOS . 

Basicamente a definição de MOTIVO é a possibilidade de qualquer fato ser consequência de acontecimentos anteriores que deram lugar a uma realidade. E é inspirado em vários fatores da realidade de minha vida que manifesto nesta solenidade MOTIVOS para meus agradecimentos . 

Reportando-me ao mais divino MOTIVO , desejo expressar, aqui e agora , dois puros agradecimentos aos responsáveis por este meu momento de glória : primeiramente , a Deus por ornamentar , com bastante luminosidade e beleza , o maravilhoso ambiente por onde enceno , com muita tranquilidade, amor e fé , toda a trajetória que envolve o drama de minha vida ; e , depois , à minha doce e brilhante família pela enorme paciência e compreensão diante de todos os meus atos questionáveis . 

Tenho ainda todo MOTIVO , diante dos presentes, de exteriorizar meu imenso orgulho por ser filho de Leopoldina e ter tido contato com as minhas primeiras letras através dos ensinamentos de Dona Zizinha , no Educandário Santa Teresinha , situado na rua Tiradentes , localidade onde nasci . 

Um outro MOTIVO de enorme satisfação é ser indicado para , junto aos brilhantes acadêmicos , integrar como membro desta preciosa casa do saber cujo compromisso é perpetuar seus conhecimentos nas áreas de letras e artes . 

Depois, tenho todo MOTIVO em agradecer ao professor doutor Cláudio Verneque Guerson pela indicação deste simples professor para fazer parte junto aos especiais membros desta Academia . 

Ainda como MOTIVO , em retribuição à indicação , quero externar minha preferência na escolha de duas relíquias de nossa literatura : CECÍLIA MEIRELES e CORA CORALINA , demonstrando delas dois poemas de nossa galeria poética , onde expressam, de maneira sutil e lírica , os mistérios da vida . 

Não sendo mais do que unicamente um velho professor e um professor velho , deixo , como lembrança deste momento repleto de emoção , dois poemas dessas duas almas líricas do santuário de nossos poetas: CECÍLIA MEIRELES e CORA CORALINA , porque também tenho grande MOTIVO de imaginar que as duas estejam, nesta hora, muito orgulhosas , flutuando em nuvens divinas, com ar de contentamento e de amor pelas homenagens que lhes faço . 

CECÍLIA MEIRELES preferia que a rotulassem de POETA e não de POETISA, porque achava que POETAS não têm gênero nem sexo, uma vez que eles possuem a mesma alma, e , num belo poema , soube exprimir sua preferência através da PALAVRA , revestindo suas ideias de todos os relevos, de todas as graças e de todas as formas necessárias para fascinar o espírito. 

Vamos à poesia selecionada : 

MOTIVO ( Cecília Meireles ) 

Eu canto porque o instante existe 
E a minha vida está completa. 
Não sou alegre nem sou triste: 
Sou POETA! 

Irmão dASSCOISAS fugidias, 
Não sinto gozo nem tormento. 
Atravesso noite e dia 
No vento. 

Se desmorono ou se edifico, 
Se permaneço ou me desfaço, 
Não sei, não sei. Não sei se fico 
Ou passo. 

Sei que canto. E a canção é tudo. 
Tem sangue eterno e a asa ritmada. 
E um dia sei que estarei mudo: 
Mais nada. 

CORA CORALINA foi despertada para o mundo da literatura pelo grande poeta CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE , dizendo em uma carta enviada a ela : 

"Minha querida amiga “ Seu 'Vintém de Cobre' é para mim poesia das mais diretas e comunicativas que já tenho lido e amado. Que riqueza de experiência humana, que sensibilidade especial e que lirismo identificado com as fontes da vida ! “ 

Vamos à poesia selecionada : 

NÃO SEI 
(Cora Coralina) 

Não sei... se a vida é curta 
Ou longa demais para nós, 
Mas sei que nada do que vivemos 
Tem sentido, se não tocamos o coração [ das pessoas . 

Muitas vezes basta ser 
Colo que acolhe, 
Braço que envolve, 
Palavra que conforta, 
Silêncio que respeita, 
Alegria que contagia, 
Desejo que sacia, 
Amor que promove. 

E isso não é coisa de outro mundo, 
É o que dá sentido à vida. 
É o que faz com que ela 
Não seja nem curta, 
Nem longa demais, 
Mas que seja intensa, 
Verdadeira, pura...Enquanto durar: 
“ Feliz aquele que transfere o que sabe e 
[ aprende o que ensina! ” 

E como último MOTIVO deste SONHO que ora torna-se REALIDADE , expresso meus sinceros agradecimentos a todos presentes que souberam filtrar , em cada palavra por mim proferida , a verdadeira essência de uma mensagem simples e carinhosa . 

Boa noite e MUITO OBRIGADO !!!! 

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